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Netflix TikTok: como virais transformam séries em hits

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Quando “Squid Game” voltou para sua terceira e última temporada, a pergunta que pairava entre executivos e fãs era a mesma: conseguiria repetir o estouro global de 2021? A resposta veio rápido — e mais uma vez graças ao TikTok. Na segunda semana de exibição, a série sul-coreana somou quase o dobro de horas vistas na Netflix em relação à estreia, impulsionada por milhões de clipes curtos da temida brincadeira “Batatinha Frita 1, 2, 3”.

O fenômeno não é isolado. De “Straw”, drama escrito e dirigido por Tyler Perry, a produções britânicas como “Adolescence” e “Baby Reindeer”, a grande vitrine do streaming hoje atende pelo feed vertical do aplicativo chinês. Nesta reportagem, destrinchamos dados, causas e consequências desse casamento entre Netflix e TikTok — e como a gigante do streaming tenta criar sua própria versão da experiência.

O ciclo viral: da tela do celular para o Top 10 global

Extrair números do TikTok não é tarefa simples: a plataforma oferece poucas APIs e o Creative Center exibe apenas tendências genéricas. Mesmo assim, cruzar picos de engajamento em hashtags com a curva de audiência semanal da Netflix aponta um padrão claro: o segundo e o terceiro fins de semana tornam-se decisivos.

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  • “Squid Game” – Estreia discreta; explosão na 2ª semana após clipes de jogos mortais.
  • “Adolescence” – Picos de buscas por #Adolescence no TikTok impulsionam salto de 85% de audiência.
  • “Baby Reindeer” – Revelações chocantes do enredo geram reações filmadas por criadores, triplicando as horas vistas.

No caso de “Wednesday”, bastou a coreografia de Jenna Ortega — replicada mais de 2 milhões de vezes — para transformar a série em um dos maiores lançamentos de língua inglesa da história da plataforma. A mesma lógica valeu para o retorno de “Stranger Things”, catapultado pelo revival de “Running Up That Hill” de Kate Bush.

Estudo de caso: “Straw” e a força emocional dos reacts

Personagem de Straw andando determinada
A caminhada determinada de Teyana Taylor gerou milhares de dublagens.

Lançado discretamente, “Straw” abriu com 25,3 milhões de visualizações — número sólido, porém comum para um original de médio porte. No dia 11 de junho, a hashtag #Straw atingiu o pico no TikTok, de acordo com o Creative Center. Na mesma semana, o longa subiu 93% em audiência. Dois tipos de vídeo dominaram o feed:

  • Reactions familiares – Usuários filmaram pais e avós chorando com o final.
  • Memes de empoderamento – A cena em que Teyana Taylor caminha de cabeça erguida virou trilha para desafios de autoestima.
Gráfico de interesse pela hashtag Straw
O pico de buscas por #Straw coincidiu exatamente com a 2ª semana de exibição.

O resultado prova a lógica de FOMO (sigla em inglês para medo de ficar de fora): ver gente reagindo desperta curiosidade, que aumenta as visualizações e gera mais clipes, num círculo virtuoso.

TikTok: aliado ou concorrente?

Enquanto o app chinês entrega publicidade gratuita, ele também rouba atenção. Segundo o relatório Nielsen The Gauge, o YouTube lidera o tempo de tela na TV, e o TikTok reina absoluto no celular. Ted Sarandos, co-CEO da Netflix, minimizou a ameaça em março de 2025, argumentando que o serviço paga adiantado aos criadores, oferecendo “monetização superior” em comparação à concorrência.

A resposta da Netflix: feed vertical dentro do app

Novo feed vertical da Netflix
Interface apresentada na prévia de imprensa em maio de 2025.

A plataforma de streaming anunciou um novo feed de vídeo vertical para celular e smart TVs, lembrando o extinto Quick Laughs, porém abrangendo todos os gêneros. A grande diferença: não há botões de curtida, compartilhamento ou comentários. Sem esses sinais sociais, especialistas questionam se o feed conseguirá gerar a mesma urgência cultural que move o TikTok.

Impacto em catálogos antigos

Não são apenas lançamentos que surfam a onda. Em julho de 2023, “The Woman in the House Across the Street from the Girl in the Window” voltou ao Top 10 após cenas de humor viralizarem de forma irônica. Já “Ginny & Georgia” conseguiu ressurgir quando trechos dramáticos foram editados como se fossem trailers cinematográficos, atraindo novo público adolescente.

O que faz um clipe vingar?

  • Clareza sem contexto: momentos compreensíveis em 30 segundos.
  • Emoção extrema: choque, riso ou choro impulsionam shares.
  • Música marcante: trilhas que ganham vida própria, como Kate Bush.
  • Identificação: temas de autoestima ou nostalgia convidam o usuário a se filmar.

Produtores agora consideram “o clipável” já no roteiro, buscando aquela one-liner ou sequência visual que pare em loop no celular.

Próximos passos e o futuro da descoberta

Se o feed interno da Netflix vingar, a empresa reduzirá a dependência de plataformas de terceiros. Mas sem elementos sociais, o risco é virar só mais uma aba ignorada. Já o TikTok deve continuar como termômetro de sucesso, sobretudo fora do eixo EUA-Europa, onde campanhas tradicionais de marketing não chegam com tanta força.

Para o usuário, a boa notícia é óbvia: quanto mais rápida a conversa nas redes, maior a chance de descobrir aquela série escondida. Só resta saber quem vai colher a maior parte dessa atenção — e dos dólares de publicidade — no longo prazo.

Netflix TikTok: Considerações finais

Nenhuma estratégia de marketing consegue controlar a aleatoriedade do TikTok, mas entender seu funcionamento é indispensável. As maiores vitórias recentes da Netflix — de “Wednesday” a “Straw” — nasceram em clipes de 15 segundos. E, enquanto os algoritmos ditarem a conversa cultural, toda produção que quiser ser hit global precisará caber na palma da mão.

  1. Por que o TikTok é tão eficaz para promover séries da Netflix?

    O formato curto facilita o compartilhamento de momentos impactantes, gerando curiosidade instantânea. Quando o clipe viraliza, o efeito FOMO leva novos usuários a assistirem à série inteira.

  2. Toda produção bem-sucedida na Netflix depende do TikTok?

    Não. Lançamentos podem triunfar por marketing tradicional ou boca a boca offline, mas os dados mostram que o TikTok potencializa e acelera o alcance global, sobretudo após a primeira semana.

  3. O novo feed vertical da Netflix vai substituir o TikTok?

    Ainda é cedo para dizer. Sem curtidas e comentários, o feed tem menos mecanismos de engajamento social. Ele pode aumentar a descoberta dentro do app, mas dificilmente replicará o alcance cultural do TikTok.

Diogo Fernando

Apaixonado por tecnologia e cultura pop, programo para resolver problemas e transformar vidas. Empreendedor e geek, busco novas ideias e desafios. Acredito na tecnologia como superpoder do século XXI.

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