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Novo método não tóxico extrai ouro do lixo eletrônico

Pesquisadores australianos anunciaram, em 27 de junho de 2025, uma solução inédita para extrair ouro do lixo eletrônico e de minérios sem recorrer a cianeto ou mercúrio. Desenvolvido na Flinders University, o processo usa um reagente comum na desinfecção de água, salmoura e um polímero rico em enxofre para dissolver e capturar o metal. O avanço promete reduzir drasticamente riscos ambientais e de saúde, ao mesmo tempo em que cria oportunidades econômicas em setores de mineração e reciclagem que enfrentam um tsunami de e-waste global.

Como o processo à base de água recupera o metal precioso

No cerne da descoberta está um reagente oxidante usado, há décadas, em estações de tratamento de água potável. Quando dissolvido em solução salina — essencialmente água e cloreto de sódio — ele oxida o ouro presente em placas de circuito ou em rochas, formando um complexo solúvel. Em seguida, um polímero sulfuroso de baixo custo é adicionado à mistura. Suas cadeias ricas em enxofre ligam-se com alta afinidade ao ouro, mesmo na presença de outros metais como cobre e alumínio, deixando o restante do material praticamente intacto.

  • Etapa 1 – Trituração do e-waste ou minério
  • Etapa 2 – Imersão em solução de sal e reagente oxidante
  • Etapa 3 – Adição do polímero que sequestra o ouro
  • Etapa 4 – Remoção do polímero carregado de ouro
  • Etapa 5 – Quebra controlada do polímero para liberar ouro puro
  • Etapa 6 – Reutilização do polímero na próxima carga

O professor Justin Chalker, que lidera o estudo publicado na Nature Sustainability, resume o impacto: “Transformamos duas substâncias baratas e abundantes em uma rota altamente seletiva para ouro, eliminando resíduos tóxicos e permitindo um ciclo fechado de reaproveitamento”.

Por que essa inovação é considerada um divisor de águas

Hoje, cerca de 15% do ouro no mercado mundial provém de mineração artesanal que depende fortemente do mercúrio. Estima-se que 2 mil toneladas desse metal pesado entrem no ambiente a cada ano, contaminando rios e bioacumulando-se na cadeia alimentar. Já o cianeto, padrão da mineração industrial, exige barragens de contenção e monitoramento permanente. O novo método:

CriterioCianeto/MercúrioMétodo Flinders
Toxicidade agudaAltaNula
Investimento inicialMédioBaixo
Reutilização do solventeLimitadaSim, ciclo fechado
Eficiência (g Au/kg de material)4–6 g4–5 g

Além de competitiva, a eficiência mantém o ouro em estado de alta pureza (> 97%), segundo ensaios realizados em parceria com laboratórios nos EUA e no Peru.

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Crise global de e-waste aumenta urgência

O mundo gerou 62 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2022, mas apenas 22,3% foram recicladas formalmente, de acordo com dados das Nações Unidas. Como smartphones, notebooks e placas gráficas contêm até 350 gramas de ouro por tonelada, cada quilograma de eletrônicos descartados representa valor econômico desperdiçado e potencial de contaminação por metais pesados. Países em desenvolvimento, onde ocorre desmontagem informal, seriam os maiores beneficiados pela nova tecnologia ao eliminar o contato direto com mercúrio vaporizado.

Volume de e-waste cresce cinco vezes mais rápido que a capacidade global de reciclagem, segundo a ONU.

Validação científica e próximos passos comerciais

Para comprovar a robustez, o grupo de Chalker tratou desde placas-mãe de computador até minério aurífero de baixa concentração. Em todos os cenários, o polímero capturou mais de 90% do ouro em menos de 30 minutos. Os pesquisadores agora buscam parceiros industriais para construir plantas-piloto capazes de processar dezenas de toneladas por dia. O projeto foi parcialmente financiado pela Agência Australiana de Proteção Ambiental e conta com apoio da comunidade de garimpeiros de Madre de Dios, no Peru, região conhecida pelo uso extensivo de mercúrio.

“Se conseguirmos tornar o processo tão econômico quanto o cianeto, poderemos aposentar duas das substâncias mais tóxicas da mineração moderna.”

Prof. Justin Chalker, Flinders University

Desafios de escala e repercussões regulatórias

Embora promissor, o método terá de vencer desafios logísticos: transporte de soluções salinas em regiões remotas, adaptação de infraestruturas existentes e certificações de agências ambientais. Autoridades de países como Filipinas e Indonésia — onde a mineração artesanal é predominante — já sinalizaram interesse em políticas de incentivo fiscal para adoção de processos livres de mercúrio. No âmbito corporativo, gigantes de eletrônicos procuram tecnologias que lhes permitam cumprir metas de circularidade até 2030, criando demanda adicional.

Polímero sulfuroso pode ser sintetizado a partir de enxofre residual da indústria petrolífera, barateando a produção.

O que isso significa para consumidores e investidores

  • Eletrônicos mais verdes – Maior recuperação de ouro reduz a pegada de carbono da cadeia de suprimentos.
  • Redução de custos – Ciclo fechado diminui despesas com reagentes perigosos e tratamento de efluentes.
  • Novos mercados – Startups de reciclagem podem surgir em regiões sem infraestrutura pesada.
  • Compliance ESG – Empresas listadas elevam pontuações de sustentabilidade ao adotar o processo.

Analistas da Wood Mackenzie projetam que a demanda por ouro reciclado cresça 30% até 2030. Caso o método de Flinders alcance escala industrial em cinco anos, sua participação pode representar até 10% desse mercado, atraindo investimentos em tecnologias de polímeros inteligentes.

Considerações finais sobre extrair ouro do lixo eletrônico

A inovação australiana oferece uma resposta concreta à dualidade entre necessidade de metais críticos e preservação ambiental. Combinando química verde, economia circular e potencial de impacto social, o método não tóxico para extrair ouro do lixo eletrônico inaugura um capítulo em que valor e sustentabilidade caminham lado a lado. O próximo teste decisivo será provar que, além de segura, a solução pode competir em escala global com processos centenários enraizados na indústria.

  1. Como o novo método de extração de ouro funciona?

    O reagente oxidante dissolve o ouro em solução salina e o polímero à base de enxofre captura apenas esse metal. Depois, o polímero é quebrado para liberar ouro puro, permitindo sua reutilização.

  2. O processo pode substituir o mercúrio usado por garimpeiros?

    Sim. Testes em minas artesanais do Peru mostraram recuperação de 90% do ouro sem liberar vapores tóxicos, tornando-o alternativa viável e mais segura.

  3. Quando a tecnologia deve chegar ao mercado?

    Os pesquisadores pretendem ter plantas-piloto operacionais até 2027. Se os custos se manterem competitivos, a adoção comercial em larga escala pode ocorrer antes de 2030.

Diogo Fernando

Apaixonado por tecnologia e cultura pop, programo para resolver problemas e transformar vidas. Empreendedor e geek, busco novas ideias e desafios. Acredito na tecnologia como superpoder do século XXI.

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