Google nega que usa e-mails do Gmail para treinar IA
O Google rebateu nesta sexta-feira (22) publicações virais que alegavam que a empresa estaria utilizando o conteúdo de mensagens e anexos do Gmail para treinar seus modelos de inteligência artificial, como o Gemini. De acordo com a companhia, as informações que circularam nas redes sociais são “enganosas e incorretas”.
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Entenda o caso e o que motivou os rumores
As alegações começaram após publicações em redes sociais, como esta no X (antigo Twitter), afirmarem que o Gmail teria atualizado suas políticas para permitir o uso do conteúdo de e-mails no treinamento de IA. Essas postagens indicavam que os usuários precisariam desativar manualmente os “recursos inteligentes” para proteger suas mensagens. O portal de segurança Malwarebytes também publicou um artigo reforçando essa narrativa.
No entanto, uma porta-voz do Google, Jenny Thomson, declarou ao site The Verge que não houve qualquer alteração nas configurações do Gmail e que o conteúdo das mensagens não é usado para treinar sistemas de IA generativa. “Esses relatos são enganosos – não alteramos nenhuma configuração de usuário, os recursos inteligentes do Gmail existem há anos, e não usamos o conteúdo de e-mails para treinar o modelo Gemini”, afirmou Thomson.
Recursos inteligentes e personalização
Os chamados “recursos inteligentes” incluem ferramentas como correção ortográfica automática, sugestões de respostas rápidas, rastreamento de entregas e integração com o Google Agenda — como a adição automática de voos e compromissos detectados em mensagens. Embora essas funcionalidades façam uso de aprendizado de máquina, segundo a empresa, elas operam localmente e respeitam as diretrizes de privacidade do usuário.
Em janeiro de 2025, o Google atualizou as opções de controle de personalização, permitindo que os usuários gerenciem separadamente o uso de dados entre o Gmail, o Google Workspace e produtos como Maps e Wallet. Dessa forma, o usuário pode manter determinados serviços personalizados sem necessariamente permitir que o sistema analise o conteúdo completo de suas mensagens.
“A ativação dos recursos inteligentes no Workspace significa apenas que você aceita a personalização da experiência, e não o compartilhamento do conteúdo de seus e-mails para treinamento de IA”, reforçou a porta-voz Jenny Thomson.
Jenny Thomson, porta-voz do Google
Preocupações com privacidade persistem
A desconfiança em torno do uso de dados pessoais por grandes empresas de tecnologia cresceu exponencialmente com o avanço das inteligências artificiais generativas, como ChatGPT, Claude e o próprio Gemini. Usuários e organizações de privacidade frequentemente exigem garantias mais claras sobre quais informações são empregadas para o aprimoramento desses sistemas.
Embora o Google tenha reiterado que o conteúdo do Gmail está fora desse escopo, a complexidade das configurações de privacidade – especialmente após a integração de IA em múltiplos produtos – levanta dúvidas sobre até que ponto o consentimento é realmente informado. Um repórter do portal The Verge relatou que havia optado por desativar certos recursos inteligentes, mas observou que, após uma atualização, eles foram reabilitados automaticamente.
O que dizem as configurações do Gmail
As configurações de privacidade do Gmail explicam que, ao ativar os “recursos inteligentes e personalização no Gmail, Chat e Meet”, o usuário consente com o uso de seus dados “para melhorar e oferecer funcionalidades como lembretes, respostas automáticas e sugestões contextuais”. No entanto, a documentação esclarece que isso não envolve o fornecimento de conteúdo de e-mails para treinamento direto de modelos de linguagem ou IA generativa.
- Recursos que dependem da ativação: verificação ortográfica, respostas rápidas e lembretes automáticos de eventos.
- Controle granular: usuários podem gerenciar o uso de dados entre plataformas diferentes (Workspace, Maps etc.).
- Transparência: políticas atualizadas estão disponíveis na Política de Privacidade do Google.
Impactos e percepção pública
Mesmo com o desmentido, a notícia repercutiu amplamente entre usuários preocupados com segurança digital. O episódio reforça o quanto a transparência das big techs ainda é um ponto sensível no diálogo sobre ética de dados e inteligência artificial. Plataformas como o Reddit e o X se tornaram palco para discussões sobre confiança em serviços de e-mail e o limite entre conveniência e vigilância digital.
O Google, por sua vez, tenta se posicionar como empresa comprometida com privacidade e controle do usuário. Desde 2023, vem implementando iniciativas de Privacy Sandbox em seu ecossistema, com o objetivo de reduzir a coleta de dados pessoais sem impacto significativo na personalização de serviços.
Análise: reputação, transparência e confiança
Do ponto de vista reputacional, rumores desse tipo representam um desafio recorrente para o Google, que constantemente precisa balancear inovações em IA com políticas de proteção de dados. A empresa depende fortemente da percepção pública de confiabilidade, especialmente à medida que suas plataformas corporativas, como o Workspace, se tornam ferramentas essenciais em ambientes profissionais e educacionais.
Em última análise, o episódio serve como alerta para os usuários revisarem regularmente suas preferências de privacidade e para as big techs serem ainda mais didáticas quanto ao uso de dados em seus produtos baseados em aprendizado de máquina.
O Google usa o conteúdo dos meus e-mails para treinar IA?
Não. O Google afirma categoricamente que o conteúdo dos e-mails e anexos do Gmail não é utilizado para o treinamento de modelos de IA generativa, como o Gemini. Os recursos inteligentes funcionam localmente e apenas personalizam a experiência do usuário.
Como posso verificar minhas configurações de recursos inteligentes?
Acesse as configurações do Gmail, selecione ‘Recursos inteligentes e personalização’ e desative a opção caso prefira limitar o uso de dados para personalização. Essa configuração pode ser gerenciada separadamente para o Workspace ou outros produtos, como Maps e Wallet.
O que muda ao desativar esses recursos?
Ao desativar os recursos inteligentes, funções como lembretes automáticos, sugestões de resposta e preenchimento de eventos em seu calendário podem ser desabilitadas, mas sua privacidade permanece inalterada em relação ao treinamento de IA do Google.
E-mails do Gmail para treinar IA: Considerações finais
A polêmica serviu como lembrete sobre a importância da transparência no uso de dados e comunicação clara com os usuários. O Google reforça que não há coleta de mensagens privadas para fins de IA, mas incidentes como este mostram que a confiança digital continua sendo um dos maiores desafios da era da inteligência artificial.

