Trump inicia negociação de acordo do TikTok
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que começará nesta segunda ou terça-feira as conversas com a China sobre um acordo do TikTok. A declaração foi feita a bordo do Air Force One na sexta-feira (4), apenas 75 dias antes do prazo final de 17 de setembro para que a ByteDance se desfaça dos ativos norte-americanos do aplicativo de vídeo curto. “Já temos praticamente um acordo”, disse Trump, sinalizando que pretende falar diretamente com o presidente Xi Jinping ou com representantes de alto escalão de Pequim. O avanço ocorre depois de meses de impasse marcado por tarifas, vetos e dúvidas sobre segurança de dados de 170 milhões de usuários nos EUA.
Tabela de conteúdos
O que está em jogo no acordo
No centro da negociação TikTok está a exigência, feita originalmente em 2020 e renovada em junho deste ano, de que a ByteDance crie uma empresa separada, com sede nos Estados Unidos e maioria de capital norte-americano, para operar o aplicativo no país. Washington alega risco de que dados sensíveis de cidadãos possam ser acessados por autoridades chinesas, algo que a companhia nega. A solução em análise envolveria:
- Transferir código-fonte e algoritmos específicos dos EUA para servidores locais.
- Nomear um conselho de administração composto em maioria por cidadãos norte-americanos.
- Firmar contratos de auditoria cibernética com empresas independentes como Oracle ou Microsoft.
- Garantir que futuros updates passem por revisão de órgãos regulatórios dos EUA.
Reações de Pequim e Washington
O governo chinês já indicou que qualquer desmembramento compulsório da ByteDance precisará de autorização do Ministério do Comércio, sob as regras de exportação de tecnologias sensíveis publicadas em 2023. Analistas em Pequim enxergam o anúncio de Trump como um gesto para destravar as negociações bilaterais congeladas desde que Washington anunciou tarifas de até 60% sobre US$ 18 bilhões em importações chinesas de eletrônicos.
“A perspectiva de um acordo comercial paralelo ao caso TikTok pode criar um ambiente político mais favorável”, avalia Chen Li, professor de Relações Internacionais na Universidade de Fudan.
Chen Li, Universidade de Fudan
Nos EUA, congressistas republicanos celebraram a sinalização como vitória para a segurança nacional, enquanto democratas pediram transparência sobre eventuais concessões a Pequim. O Comitê de Investimentos Estrangeiros (CFIUS) deve revisar qualquer termo final.
Prazo e possíveis cenários
Restando pouco mais de dois meses para o prazo legal, três cenários dominam as discussões:
- Acordo aprovado – ByteDance aceita vender 60% da operação para consórcio de investidores dos EUA e China referenda. TikTok segue operando normalmente.
- Extensão de prazo – Trump concede novo adiamento se houver “progresso substancial” nas conversas. Seria a segunda prorrogação desde maio.
- Proibição total – Caso não haja consenso, o app pode ser removido das lojas Apple e Google, forçando usuários a VPNs ou migrando para rivais como Reels e Shorts.
Impacto para usuários e mercado de aplicativos de vídeo curto
Com 1,6 bilhão de downloads globais, o TikTok se tornou plataforma crucial para criadores de conteúdo, marcas e campanhas políticas. Segundo dados da Sensor Tower, 36% dos usuários norte-americanos afirmam que o TikTok é seu principal canal de entretenimento. Uma eventual proibição abriria espaço para:
- Instagram Reels intensificar parcerias pagas com influenciadores.
- YouTube Shorts expandir monetização para criadores de médio porte.
- Aplicativos emergentes como Triller e Kwai buscarem fatias de nicho.
Para anunciantes, a incerteza eleva o custo de aquisição de audiência e encoraja diversificação de canais. Já para a ByteDance, o fatiamento reduzirá sinergias algorítmicas, pressionando a rentabilidade.
Contexto: histórico de tensões EUA-China
Desde 2018, Washington e Pequim travam disputas sobre tecnologia, tarifas e propriedade intelectual. Casos emblemáticos incluem:
- Huawei – inclusão na Entity List e restrições a componentes 5G.
- Didi Global – investigação de segurança cibernética após IPO em Nova York.
- Nvidia e AMD – limitações à exportação de chips de IA avançados.
Nesse ambiente, o Trump TikTok tornou-se símbolo do embate por supremacia digital. O aplicativo é visto tanto como risco de influência estrangeira quanto como modelo de inovação em IA de recomendação.
O que dizem especialistas em segurança e privacidade
Estudos da Universidade de Stanford indicam que o TikTok coleta em média 37 pontos de dados comportamentais por sessão, volume similar ao de competidores ocidentais. No entanto, a legislação chinesa de 2021 obriga empresas a cooperar com investigações de segurança nacional, o que alimenta temores em Washington.
“O problema não é a quantidade de dados, mas o potencial de acesso governamental”, resume Paul Triolo, especialista da consultoria Albright Stonebridge.
Paul Triolo, Albright Stonebridge
Já a Electronic Frontier Foundation defende que a melhor resposta seria uma lei federal de privacidade abrangente, em vez de bans específicos que podem gerar retaliações e fragmentar a internet.
Como o TikTok virou peça-chave da geopolítica
Lançado em 2017, o TikTok atingiu 1 bilhão de usuários em tempo recorde graças ao algoritmo For You. A ascensão coincidiu com a estratégia chinesa de exportar plataformas de consumo digital, vista por Washington como ameaça à hegemonia do Vale do Silício. A disputa acirrou-se quando o aplicativo começou a influenciar eleições — do #BlackLivesMatter em 2020 às primárias de 2024 — e a moldar tendências culturais globais.
- Soft power digital – Pequim vê o app como vitrine de modernidade.
- Economia criativa – Usuários geraram US$ 4,3 bi em receita a influenciadores em 2024.
- Diplomacia pública – Conteúdos pró-China recebem, segundo a Graphika, 120% mais engajamento médio que neutros.
Consequentemente, qualquer decisão sobre o futuro da plataforma repercute além do mercado de tecnologia, afetando comércio, cultura e segurança global.
Considerações finais
O anúncio de Trump inaugura uma nova fase na negociação TikTok. Se bem-sucedido, o acordo poderá servir de modelo para lidar com outras plataformas estrangeiras em tempos de rivalidade tecnológica crescente. Caso fracasse, intensificará a decoupling digital entre EUA e China, com custos incalculáveis para usuários e empresas. Nas próximas semanas, atenção aos sinais de Pequim e às deliberações do CFIUS serão vitais para entender se “praticamente” ter um acordo é suficiente para salvá-lo.
Perguntas Frequentes o possível acordo do TikTok
O TikTok vai ser banido dos EUA?
Resposta curta: Ainda não. O prazo de 17 de setembro foi mantido e o governo indica avanço nas negociações. Se não houver acordo, banimento segue na mesa.
Qual é o papel da ByteDance no acordo?
Resposta direta: A ByteDance precisará vender participação majoritária das operações norte-americanas e transferir infraestrutura para os EUA, sob supervisão do CFIUS.
Por que os EUA temem o TikTok?
Resposta direta: Reguladores temem que dados de usuários sejam acessados pelo governo chinês, dada a lei de segurança nacional vigente no país asiático.
O que muda para criadores de conteúdo?
Resposta curta: No curto prazo nada muda. Futuras mudanças de algoritmo ou políticas de dados dependerão dos termos finais do acordo.
fonte: Trump says US will start talks with China on TikTok deal this week