Bitcoin de US$ 210 mil vira US$ 8,6 bi e é movido após 10 anos
Uma carteira adormecida desde 2011 movimentou 80.000 bitcoins na sexta-feira (4), transferindo o equivalente a US$ 8,6 bilhões em questão de horas. O episódio – o maior deslocamento diário de moedas com mais de dez anos já registrado – acendeu o alerta da comunidade cripto e trouxe de volta o debate sobre a segurança de chaves privadas antigas, a influência de “whales” (grandes detentores) e a mística do início do Bitcoin.
Os 80.000 BTC foram divididos em oito transações de 10.000 moedas cada e saíram de endereços que não eram tocados desde a chamada Satoshi era, quando o ativo custava menos de US$ 4. Ao preço da época, todo o lote foi adquirido por cerca de US$ 210 mil – um lucro potencial de 40.000 × se houvesse venda no mercado atual. Embora não haja indício de liquidação, o volume foi suficiente para provocar um breve recuo da cotação abaixo de US$ 108.000 antes da rápida recuperação.
Tabela de conteúdos
Como a transferência aconteceu
Dados on-chain da Arkham Intelligence mostram que todas as transações ocorreram entre 03h e 08h (UTC), em blocos consecutivos. Cada lote de 10.000 BTC foi enviado primeiro para um endereço intermediário e, em seguida, para carteiras bc1q
, padrão SegWit considerado mais seguro e barato em taxas. Os fundos tinham origem em transações coinbase, ou seja, recompensas de mineração, o que indica que o proprietário é – ou foi – um minerador dos primórdios da rede.
Julio Moreno, chefe de pesquisa da CryptoQuant, confirmou que se trata do maior movimento de moedas com mais de dez anos “por uma larga margem”: o recorde anterior era de 3.700 BTC. A dimensão inédita alimentou teorias que vão de simples migração de endereços a um megahack sem precedentes.
Hack ou upgrade? As principais hipóteses
- Upgrade de endereço: especialistas da Arkham sugerem que o detentor apenas atualizou seus endereços do formato
1-
(legacy) parabc1q-
, mais moderno. - Troca de custódia: fundos podem ter sido passados a um terceiro por razões de segurança, sucessão ou corretagem OTC.
- Chaves comprometidas: um teste de 0,001 BCH visto uma hora antes levantou a suspeita de que alguém verificou as chaves em silêncio antes de mover os BTC.
Conor Grogan, diretor da Coinbase, classificou a possibilidade de roubo como “o maior da história, se confirmado”, mas reconheceu que, até o momento, não há provas conclusivas.
Horas depois, a própria Arkham reforçou a hipótese de upgrade, afirmando não haver sinais de envio para exchanges ou mesas OTC, o que corrobora a ideia de que o detentor não pretende vender.
Efeito no mercado e na rede
A simples possibilidade de despejo de 80.000 BTC pressionou o sentimento. Em minutos, o preço caiu cerca de 2 %, mas voltou a subir quando ficou claro que os coins permaneceram em endereços controlados pelo mesmo cluster. Analistas apontam que movimentos assim ressaltam a concentração de oferta em mãos antigas: estimativas indicam que mais de 2,6 milhões de BTC não se movem há uma década.
- Liquidez: mesmo sem venda, a ameaça de venda pode aumentar a volatilidade.
- Segurança: incentiva holders antigos a migrarem para padrões SegWit ou Taproot.
- Transparência: reforça a vantagem da blockchain em rastrear grandes fluxos em tempo real.
Por que carteiras antigas preocupam tanto?
Além de concentrarem grande parte da oferta, carteiras criadas antes de 2013 costumam usar softwares e padrões de seed que já sofreram atualizações ou apresentam vetores de ataque conhecidos. Chaves salvas em HDs, pendrives ou até impressas podem se degradar, serem perdidas ou roubadas. Por isso, especialistas recomendam a migração para frases-semente de 24 palavras, múltipla assinatura e armazenamento distribuído.
“Quando uma carteira dessa idade acorda, todo o mercado segura a respiração. É como ver um T-rex movendo o rabo perto da cerca.”
André Franco, analista-chefe da MB Research
Mesmo que o detentor não venda, a lembrança de que poucos indivíduos controlam centenas de milhares de bitcoins reforça discussões sobre distribuição, governança e futuros efeitos de liquidez.
Contexto histórico: a “era Satoshi”
Em 2011, o Bitcoin ainda não havia passado de US$ 30 e ser minerador exigia apenas uma CPU de desktop. Muitos dos primeiros blocos foram extraídos por hobbyistas que acumularam milhares de moedas quase sem custo. A identidade do criador, Satoshi Nakamoto, permanece desconhecida, e estima-se que suas próprias carteiras guardem cerca de 1,1 milhão de BTC, também intocados.
Desde então, o mercado evoluiu para uma indústria trilionária, com fundos regulados, ETFs à vista nos EUA e adoção institucional ampla. Ainda assim, eventos como o de sexta-feira mostram que fantasmas do passado seguem capazes de mexer com preços e nervos.
Considerações finais
Até que se prove o contrário, a transferência de US$ 8,6 bilhões parece um simples upgrade de segurança, mas expõe a fragilidade de chaves antigas e o poder que baleias históricas ainda detêm. Para o investidor comum, a lição é clara: mantenha backups atualizados, distribua o risco e acompanhe alertas on-chain. Afinal, basta um clique de uma carteira jurássica para balançar todo o ecossistema.
Quem pode ser o dono dos 80.000 BTC?
Não há confirmação, mas a origem em recompensas de mineração indica um minerador early adopter. Rumores citam nomes como Roger Ver, porém sem provas sólidas. Fontes on-chain mostram controle único sobre todos os endereços.
A movimentação significa que o detentor vai vender?
Não necessariamente. Os bitcoins foram para novos endereços SegWit, sem passagem por corretoras. Analistas veem a ação como preventiva, visando segurança e não liquidação imediata.
O que é um endereço bc1q?
É o formato SegWit nativo do Bitcoin. Oferece taxas menores e melhor proteção contra certos ataques. Migrar fundos para esse padrão é prática recomendada para carteiras antigas.
Como identificar se uma carteira antiga foi hackeada?
Sinais comuns incluem transações teste em forks como BCH e envios rápidos para exchanges. Ainda assim, apenas cruzamento on-chain e acompanhamento de depósitos em corretoras pode confirmar um ataque.