Meta investe US$14,8 bi na Scale AI e testa regulação
A Meta Platforms anunciou nesta quinta-feira (13.jun.2025) um investimento de US$ 14,8 bilhões na startup Scale AI, adquirindo 49% de participação sem direito a voto e incorporando o CEO Alexandr Wang ao seu quadro executivo.
O acordo, que não exige revisão antitruste obrigatória nos EUA, ocorre em Mountain View (CA), envolve serviços de rotulagem de dados usados por gigantes como Microsoft e OpenAI e levanta dúvidas sobre como o governo Donald Trump lidará com parcerias do tipo acquihire. Ainda que não haja controle acionário, especialistas alertam para possíveis investigações caso a operação restrinja a concorrência ou burle a supervisão regulatória.
Tabela de conteúdos
Por que a Meta aposta na Scale AI?
Fundada em 2016, a Scale AI utiliza força de trabalho baseada em gig economy para rotular conjuntos massivos de dados – etapa crítica no treinamento de modelos de inteligência artificial. Ao injetar quase US$ 15 bi, a Meta busca acelerar a criação de produtos de IA generativa para Facebook, Instagram, Threads e Oculus, além de reduzir dependência de dados externos.
A participação, porém, é minoritária e sem voto, estratégia desenhada para minimizar interferência direta nas operações da Scale e, ao mesmo tempo, garantir acesso preferencial a ativos e talentos.
Impactos imediatos no mercado de IA
- Google, maior cliente da Scale, já anunciou rompimento do contrato após o acordo.
- Outros parceiros, como Microsoft e OpenAI, estudam reduzir volume de demanda.
- Meta passa a disputar mão de obra qualificada e dados rotulados em larga escala.
- Valuation da Scale sobe para US$ 29 bi, segundo fontes citadas pela Reuters.
- M&A de infraestrutura de dados segue aquecido: Amazon investiu US$ 13 bi em data centers na Austrália na mesma semana.
Risco antitruste e o fator acquihire
Diferentemente de uma aquisição total, o acordo não dispara automaticamente a revisão do Departamento de Justiça (DOJ) ou da Comissão Federal de Comércio (FTC). No entanto, ambas as agências podem abrir inquérito se detectarem efeitos nocivos à concorrência, como exclusão de rivais ou acesso privilegiado a dados sensíveis. Para o professor William Kovacic, da George Washington University, o cenário regulatório se tornou mais flexível sob Trump, mas persiste a desconfiança em relação aos grandes conglomerados tecnológicos.
“O modelo de participação minoritária sem voto dá algum amparo legal, mas não elimina o escrutínio. Se houver indícios de bloqueio de mercado, a FTC pode intervir”, avalia David Olson, professor de Direito Antitruste no Boston College.
David Olson, Boston College
Reação política: senadora Warren pressiona
A democrata Elizabeth Warren classificou o investimento como “tentativa de esmagar a concorrência” e pediu investigação imediata. Ela já conduz inquéritos sobre acordos de IA de Google e Microsoft e diz que “a Meta não pode driblar a lei”. Essa pressão legislativa aumenta a incerteza sobre se o acordo será, de fato, fiscalizado ou se seguirá o precedente de Amazon-Adept e Microsoft-Inflection, encerrados sem sanções até o momento.
O papel de Alexandr Wang dentro da Meta
Com apenas 28 anos, Wang é visto como prodígio da IA. Seu novo cargo na Meta – ainda não detalhado – vem acompanhado de restrições formais de acesso a informações estratégicas da Scale. Ele permanece no conselho da startup, mas seguirá políticas de firewall para evitar troca indevida de dados entre as companhias. A nomeação reforça a aposta da Meta em talentos de elite após a saída de figuras como Yann LeCun do dia a dia de produtos.
Possíveis desdobramentos e cenários
- Investigação formal – Caso FTC ou DOJ abram processo, o contrato pode receber cláusulas de remédio ou até ser revertido.
- Reação em cadeia – Outras data-providers podem limitar serviços a empresas com stakes de big techs.
- Padronização regulatória – Congresso pode discutir limiares específicos para parcerias de IA.
- Expansão internacional – UE e Reino Unido avaliam obrigar notificação prévia de investimentos em IA acima de certo patamar.
Contexto: aquisições vs. parcerias na corrida da IA
Desde 2023, big techs adotam participações minoritárias para garantir acesso a modelos e infraestrutura sem acionar limites legais de concentração. Microsoft investiu US$ 13 bi na OpenAI, Google injetou capital na Anthropic e Amazon destinou US$ 4 bi à mesma Anthropic. A exceção foi a compra da startup MosaicML pela Databricks, notificada e aprovada. O padrão “investimento + cessão de talentos” se consolidou como via rápida de captação de know-how, mas especialistas alertam que ele repousa em zona cinzenta do direito concorrencial – nem fusão, nem aquisição integral.
Pontos-chave
- Meta adquire 49% sem voto da Scale AI por US$ 14,8 bi.
- Negócio não exige revisão automática, mas pode ser investigado.
- Google rompe contrato; Microsoft e OpenAI monitoram.
- Senadora Warren pede bloqueio se houver prejuízo à concorrência.
- Modelo acquihire vira teste para política antitruste de Trump.
A Meta controlará a Scale AI?
Resposta direta: Não. A participação é minoritária e sem direito a voto, o que impede controle acionário imediato. Expansão: Mesmo assim, a Meta terá influência estratégica pelo acesso a dados e talentos. Validação: Especialistas apontam que cláusulas de firewall limitam troca de informações sensíveis entre as empresas.
O acordo precisa ser aprovado pela FTC?
Resposta direta: Em princípio, não. Como não há aquisição de controle, a lei não exige submissão prévia. Expansão: A FTC, porém, pode abrir investigação se suspeitar de efeitos anticompetitivos. Validação: Casos anteriores, como Amazon-Adept, mostram que o órgão acompanha acquihires.
Quais empresas podem ser afetadas?
Resposta direta: Google, Microsoft, OpenAI e governos clientes da Scale. Expansão: A saída do Google indica preocupação com vazamento de dados ou vantagem competitiva da Meta. Validação: Fontes da Reuters confirmaram reavaliação de contratos por outros parceiros.
Quem é Alexandr Wang?
Resposta direta: Fundador e CEO da Scale AI, agora executivo da Meta. Expansão: Aos 28 anos, Wang é considerado um dos nomes mais promissores da IA, com experiência em rotulagem de dados em escala. Validação: Ele seguirá no conselho da Scale, segundo fontes ligadas ao acordo.
Considerações finais
O investimento bilionário da Meta na Scale AI sinaliza uma nova etapa da corrida por dados e talento em inteligência artificial. Embora estruturado para evitar o gatilho regulatório automático, o acordo será observado de perto por legisladores, concorrentes e consumidores. Se provar que estimula inovação sem ferir a concorrência, pode se tornar modelo para futuras parcerias. Caso contrário, reforçará o argumento de que grandes plataformas tecnológicas encontram brechas para expandir domínio – o que reacende o debate sobre limites regulatórios em um setor que evolui mais rápido do que as leis.