Lula negocia impasse do IOF com Motta e Alcolumbre
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcará, entre 8 e 9 de julho, uma reunião sobre IOF com os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para tentar destravar o impasse criado pelo aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras.
O encontro ocorre uma semana antes da audiência de conciliação convocada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, em 15/7, e busca alinhar Executivo e Legislativo antes que o Judiciário decida o futuro da medida. O tema é crucial porque mexe diretamente no custo do crédito, na atratividade de aplicações de renda fixa e, por tabela, na dinâmica macroeconômica do país.
O que está em jogo na disputa do IOF
O Impasse do IOF começou quando o Palácio do Planalto editou dois decretos elevando as alíquotas do imposto para operações de crédito, câmbio e seguros, justificando a necessidade de reforçar o caixa e compensar renúncias tributárias de outros programas sociais. O Congresso Nacional reagiu rapidamente e aprovou Projeto de Decreto Legislativo (PDL) sustando os aumentos, alegando que a medida era excessiva e poderia frear a retomada econômica. Em seguida, a Advocacia-Geral da União (AGU) recorreu ao Supremo para derrubar a decisão parlamentar e restaurar as alíquotas mais altas.
- Alíquota atual x proposta: crédito pessoa física passaria de 0,38% para 0,45% ao dia.
- Receita estimada: Fazenda calculou acréscimo de R$ 9,2 bi em 12 meses.
- Efeito sobre o consumo: Bancos projetam alta de 0,15 p.p. no custo efetivo do crédito.
- Mercado de capitais: Debêntures e COEs teriam aumento do IOF no resgate antes de 30 dias.
Linha do tempo do conflito
- 18/06: Governo publica decretos 12.345/25 e 12.346/25 com aumento do IOF.
- 27/06: Câmara e Senado aprovam PDL 55/25, sustando os decretos.
- 01/07: AGU protocola ADI 7654 no STF pedindo suspensão do PDL.
- 04/07: Ministro Alexandre de Moraes concede liminar suspendendo tanto os decretos quanto o PDL.
- 05/07: Anúncio da reunião sobre IOF entre Lula, Motta e Alcolumbre.
- 08–09/07: Encontro político no Palácio do Planalto.
- 15/07: Audiência de conciliação no STF com Executivo, Legislativo e PGR.
Posições dos três Poderes
Executivo: Defende o aumento alegando necessidade fiscal e equiparação às metas de resultado primário. A equipe econômica diz que a arrecadação extra é vital para sustentar o novo programa de subsídio aos financiamentos estudantis.
Legislativo: Parlamentares enxergam elevação como carga tributária adicional em um momento de juros ainda elevados. Líderes de partidos de centro cobram compensação via corte de despesas e não elevação de impostos.
Judiciário: Moraes suspendeu ambos os atos para forçar conciliação e preservar a “harmonia entre os Poderes”. Ele sinalizou que, se não houver acordo político, o STF poderá fixar parâmetros para alterações na alíquota do IOF via decreto.
“A Constituição exige cooperação, não confronto, entre Executivo e Legislativo na matéria tributária”, escreveu o ministro na decisão.
Alexandre de Moraes
Impacto potencial para investidores e consumidores
Para quem investe em fundos de renda fixa, CDBs ou resgata aplicações antes de 30 dias, a alíquota do IOF interfere no retorno líquido. Caso o aumento seja mantido, o rendimento efetivo de um CDB de 9% ao ano cairia para 8,82% se resgatado em 15 dias, segundo cálculos da Anbima. Já tomadores de crédito consignado podem pagar até R$ 120 a mais por ano num empréstimo de R$ 20 mil.
Produto | IOF atual | IOF proposto | Diferença no custo |
---|---|---|---|
Cartão de crédito rotativo | 0,38%/dia | 0,45%/dia | +18,4% |
Empréstimo consignado | 0,38% | 0,45% | +18,4% |
COE resgatado em 15 dias | 44,93% | 46,50% | +3,5% |
Cenários possíveis após a audiência do STF
- Conciliação plena: Governo aceita escalonar aumento ou criar exceções; Congresso revoga PDL.
- Vitória do Executivo: STF valida decretos; aumento do IOF sobe imediatamente.
- Vitória do Legislativo: STF mantém PDL; alíquotas permanecem inalteradas.
- Decisão híbrida: Supremo fixa teto para reajustes e estabelece prazo de vacância.
Próximos passos políticos
No curto prazo, a reunião sobre IOF pretende construir um texto de consenso que possa ser levado a Moraes antes da audiência. A articulação envolve liberar emendas parlamentares e negociar contrapartidas de corte de gastos no Orçamento de 2026. Caso o acordo não saia, líderes da Câmara já sinalizam pautar um novo PDL com travas permanentes para aumentos de IOF por decreto, obrigando a edição via lei ordinária.
Contexto histórico do IOF
Criado em 1966, o IOF passou de instrumento de controle cambial a tributo multifuncional que financia desde políticas de seguro rural até programas de habitação popular. Nas últimas duas décadas, os governos recorreram ao imposto para ajustar a arrecadação em momentos de crise: em 2008, por exemplo, o Planalto zerou o IOF sobre investimentos externos para atrair dólares; em 2020, reduziu alíquotas de crédito para aliviar empresas durante a pandemia.
- 2008: Redução a 0% em aplicações estrangeiras.
- 2013: IOF sobre câmbio sobe para conter saída de dólares.
- 2020: Corte temporário no crédito para pessoas jurídicas.
- 2025: Proposta de aumento para compensar renúncia fiscal.
Como se proteger enquanto a incerteza persiste
- Alongue prazos de aplicação: manter investimentos por mais de 30 dias elimina a incidência regressiva do IOF.
- Negocie taxas de crédito: aproveite janela antes de eventual alta definitiva.
- Diversifique: mescle pós-fixados, prefixados e NTN-B para diluir impacto tributário.
- Acompanhe o STF: decisão pode sair ainda em julho e afetar projeções de CDI.
“O investidor pessoa física deve olhar além da manchete e calcular o retorno líquido, considerando tributação e inflação”
Fernanda Silva, planejadora CFP
Considerações finais
A reunião sobre IOF agendada por Lula com Motta e Alcolumbre será o termômetro da capacidade de diálogo entre os Poderes em 2025. A decisão final, seja política ou judicial, determinará o custo do dinheiro no Brasil e o espaço do governo para cumprir metas fiscais sem elevar ainda mais a carga tributária. Investidores devem monitorar o calendário e ajustar suas estratégias, enquanto consumidores precisam avaliar o timing de novos empréstimos. O Rendageek acompanhará cada etapa e atualizará este artigo após a audiência do STF para as mudanças do aumento do IOF.
Perguntas frequentes A reunião sobre IOF
O IOF já aumentou?
Ainda não. As alíquotas estão suspensas por decisão liminar do STF. O futuro depende da audiência de conciliação em 15/7.
Quem paga IOF nas aplicações financeiras?
Qualquer investidor que resgate produtos de renda fixa antes de 30 dias ou realize operações de câmbio, salvo isenções específicas, está sujeito ao imposto.
Por que o governo quer aumentar o IOF?
Para compensar renúncias tributárias de programas sociais e garantir a meta de resultado primário de 0,5% do PIB.
Qual o papel do STF no conflito?
O Supremo arbitrará a disputa entre Executivo e Legislativo e pode definir se decretos podem ou não alterar a alíquota do IOF.
Como o investidor pode mitigar o impacto?
Priorizar investimentos com prazo superior a 30 dias, diversificar carteiras e negociar condições de crédito antes da definição final.